Saving Private Ryan (1998)

Written by Filipe Manuel Neto on December 1, 2019

Um filme sólido, muito bem feito, mas com algumas fragilidades.

Este filme situa-se no Norte de França, durante o desembarque aliado na Normandia e as semanas que o sucederam. De acordo com o roteiro, após a morte de três irmãos em combate (dois na Normandia e um no Pacífico), o exército norte-americano decide mandar um destacamento com a missão de encontrar o último irmão, que foi lançado com uma companhia de Infantaria Pára-Quedista algures no Norte de França. Só recentemente, após alguma pesquisa, descobri que o filme foi baseado, muito ligeiramente, num acontecimento real. O roteiro é bom, está carregado de cenas de acção e vai, certamente, fazer as delícias dos amantes dos filmes de guerra e dos filmes da Segunda Guerra Mundial. Pessoalmente, destaco as cenas iniciais, em que foi recriado o "Dia D", em toda a sua crua glória, e ainda a parte final, onde tudo se conjuga num clímax de acção quase perfeito.

A cadeira do director foi ocupada pelo icónico Steven Spielberg, que é impecável mais uma vez. Ele é um daqueles directores que não tem mais porque dar provas de nada. Mais do que consagrado, já era um dos melhores directores do nosso tempo quando dirigiu este filme. Mesmo assim, não deixou de se empenhar e de nos brindar com uma direcção cuidadosa, atenta e muito bem pensada. Ao seu lado, no papel protagonista, Tom Hanks num dos filmes que marcou a sua carreira. Hanks é um actor consagrado. Atento aos detalhes e emotivo quando tem de ser, brilhou mais uma vez, arrecadando mais uma nomeação para o Óscar de Melhor Actor (atribuído, todavia, ao igualmente notável Roberto Benigni, num dos momentos mais hilariantes e emotivos que a cerimónia da Academia já viu em muitas décadas). O elenco de apoio é igualmente bom, contendo nomes como Tom Sizemore, Edward Burns, Vin Diesel, Giovanni Ribisi, Matt Damon, Paul Giamatti etc. Actores que, como podemos ver, estão consagrados e possuem, no geral, carreiras sólidas hoje em dia.

O filme brilhou, igualmente, nos detalhes técnicos. É um filme de Spielberg, e não podíamos esperar outra coisa. Observemos a forma cuidada como os detalhes históricos foram recriados, na sua maioria. Os fardamentos, o equipamento militar, as tácticas de combate, tudo foi cuidadosamente estudado e, apesar de algumas falhas (como o predomínio dos americanos e a ausência de outros aliados no teatro de guerra), correu tudo muito bem. Gostei especialmente de terem usado a língua alemã para os soldados germânicos. Destaco, ainda, a fotografia excelente, com cenas de cortar a respiração e ângulos de câmera originais (num momento estamos a observar através da mira de um sniper e, no momento seguinte, uma bala atravessa essa mesma mira na nossa direcção, para citar apenas um exemplo), bem como os efeitos sonoros, com todos aqueles sons de balas e disparos absolutamente realistas. A caracterização, os efeitos especiais, a banda sonora... tudo meticulosamente bem feito.

Pessoalmente, gostei bastante deste filme. É daqueles filmes que, após alguns anos, gosto de ver novamente, mas que desapareceu sem deixar rasto do circuito televisivo, talvez devido à sua duração e ao facto de já não ser um filme novo. Tem, também, alguns defeitos menores, como algumas concessões ao sentimentalismo lamechas e cenas de forte apelo emocional, mas confesso que lidei muito bem com isso. A cena que me pareceu mais fora de contexto foi, de facto, uma passagem envolvendo uma família francesa com os seus filhos pequenos. Outro problema deste filme é que, com excepção da personagem de Hanks, a maioria das personagens foi pouco desenvolvida e os actores têm pouco com que trabalhar, limitando-se a brincar às guerras.

Este filme arrecadou diversos prémios. De todos, destaco a sua boa prestação nos Óscares desse ano, com cinco estatuetas arrecadadas nas categorias técnicas (Melhor Realizador, Melhor Cinematografia, Melhor Edição, Melhor Som e Melhores Efeitos de Som). Ganhou ainda o Globo de Ouro para Melhor Filme Dramático.