Coyote Ugly (2000)

Written by Filipe Manuel Neto on November 8, 2023

Uma desculpa para fazer um filme cheio de mulheres a rebolar sedutoramente sem um pingo de softcore.

O que se pode dizer de um filme romântico, com leves toques de comédia, que passa a maior parte do tempo a exibir-nos mulheres muito atraentes em roupas justas e curtas, e a rebolar sensualmente num ambiente de chavascal e de deboche digno de uma festa de finalistas da universidade? Muita coisa. O que não nos deixa dúvidas? É um filme feito a pensar num público aberta e assumidamente heterossexual. Lançado em 2000, eu não sei se o filme seria possível na actualidade sem ser acusado imediatamente de sexismo e de dar uma imagem estereotipada e sexualizada da mulher.

Vamos começar por falar das coisas boas. Uma delas, talvez a melhor, é a extraordinária banda sonora, que compila excelentes canções numa das melhores bandas sonoras não-originais da década: “The Right Kind of Wrong” e “Can’t Fight the Moonlight” são tão boas que toda a gente as conhece. A música é tão importante aqui que, em certo sentido, é mais um videoclipe do que um filme: a protagonista é uma compositora aspirante que tenta singrar no mercado musical sem grande êxito, mas que descobre que canta bem e se torna numa das atracções principais de um clube nocturno.

Os cenários são convincentes o suficiente para acreditarmos neles, principalmente se for conhecido que existe, realmente, um bar deste género em Nova Iorque (aliás, parece que já abriram outros da mesma franquia). Mesmo assim, há muito exagero nas festas que é, aos meus olhos, difícil de acreditar num espaço comercial certificado e legalizado. Uma edição minimamente decente, mas por vezes relapsa, e uma cinematografia que carrega demasiado nos tons vermelhos completam, com uma nota menos positiva, os aspectos de cariz mais técnico deste filme.

A somar às boas músicas temos a beleza do elenco, com jovens e esbeltas actrizes, que compensam a inexperiência com corpos fantásticos e bons dotes de dança: Piper Perabo, Maria Bello, Tyra Banks, Izabella Miko, Bridget Moynahan e Adam Garcia. É pena que a beleza física não se traduza em talento: como o elenco não foi escolhido com base na capacidade dos actores, nenhum nos oferece uma interpretação inspirada. São um bando de canastrões completos e o filme, neste ponto, é muito fraco. Em abono da justiça, é imperativo salvar o insigne John Goodman, o único bom actor aqui, e que nos mostra o que é actuar numa personagem cheia de graça e bastante cómica.

Tudo isto, no entanto, são meros tropeços no longo caminho de uma produção que até podia, mesmo assim, ser francamente boa se nos contasse uma boa história. É no roteiro e na história contada que o filme se estatela no chão como uma aspirante a modelo que quebra os dois saltos enquanto desfila. Ao ver o filme, eu perguntei-me vezes sem conta onde diabos estava o roteiro, porque tudo aquilo, toda aquela ida para a cidade, para um futuro no mundo do espectáculo, é tão absolutamente cliché e já foi tão repisado que é inadmissível. Não há qualquer substância. Depois, todo aquele romance açucarado, sem qualquer química, sem qualquer lógica… é estúpido demais, com diálogos estúpidos e inaceitavelmente mal escritos.